6 de outubro de 2008

A Terra entrou no cheque especial, e os juros são altíssimos

No dia 23 de setembro, "comemorou-se" o Earth Overshoot Day. As aspas foram colocadas antes que alguém saisse soltando foguetes. O Dia da Ultrapassagem dos Limites da Terra (numa tradução meio mambembe) foi criado em 1995, e marca o dia quando o homem começa a gastar mais recursos naturais renováveis do que a Terra pode produzir no ano. Não é um dia fixo, e serve para se medir o tamanho da gastança e o desperdício provocados pela insanidade do modo de produção capitalista.

Para se ter uma idéia da espiral desenfreada do consumo dos recursos naturais, em 1995, quando o dia foi criado, o Earth Overshoot Day caiu em 21 de novembro e, segundo projeções da ONU (que costumam ser muito conservadoras), em 2050 a "conta recursos naturais" ficará no vermelho em julho.

Quando falamos em recursos renováveis, entenda-se a madeira usada para a produção de papel, as verduras e os grãos que a gente come, e assim por diante. Dizer que ultrapassamos a capacidade dos ecossistemas se regenerarem, é o mesmo que dizer que uma Terra só não é mais suficiente para o padrão de consumo dominante. Atualmente, com o dia caindo em setembro, ou seja, faltando ainda 3 meses para o final do ano, estamos gastando 40% a mais do que a capacidade do planeta. Em 2050, segundo a previsão da ONU, chegaremos à desconcertante situação de precisarmos de 2 Terras.

Como no caso da conta-corrente do locutor que vos fala, os juros do cheque especial da "conta recursos naturais" também são muito altos. Neste caso, eles serão pagos pelas gerações futuras, que terão menos recursos a sua disposição. Aproveitando o exemplo da crise financeira que anda provocando calafrios nos banqueiros/especuladores, enquanto os lucros são privatizados, os prejuízos são "democráticos". Ou seja, enquanto o padrão de consumo dos Estados Unidos, se estendido ao resto dos países, necessitaria de mais de 5 Terras, os países mais pobres não têm direito nem a uma. A China consome o dobro dos recursos naturais disponíveis no seu território. A diferença, ela vem buscar aqui no Brasil e nos demais países do Sul. Com a população que tem hoje, se a China tivesse o mesmo padrão de consumo dos Estados Unidos, ela iria precisar de um planeta para chamar de seu.

Ao invés dos governos facilitarem a desregulamentação – que está provocando o tsunami subprime – e criarem regras e leis que impedem as iniciativas sociais do estado, como é o caso da Lei de Responsabilidade Fiscal, o que o planeta precisa urgentemente é de um grande choque de responsabilidade ambiental, que dê um paradeiro ao desperdício irresponsável do capitalismo. A menos que a corrida espacial nos consiga um planeta B.