Outro dia, em um debate, uma pessoa me perguntou se "esse negócio de mudanças climáticas não era um plano de cientistas de esquerda para desestabilizar o Bush". Respondi que os moradores de Santa Catarina provavelmente não tinham mais dúvidas sobre isso, depois do furacão e das chuvas e deslizamentos do ano passado. Ainda não haviam começado as chuvas no Norte/Nordeste, nem a seca no Sul/Centro-Oeste.
Lembrei-me disso porque, de vez em quando, as pessoas vêm comentar comigo que a questão do Desmatamento Zero na Amazônia é importante, mas... é muito longe e as pessoas não tem como se mobilizarem por algo tão distante.
Pois bem, aí estão os números da Mata Atlântica que é o nosso quintal, inclusive com o prazo para sua extinção: 40 anos. Os efeitos do desmatamento estão presentes e visíveis para qualquer um que pegue a estrada em uma viagem de fim de semana, daquelas que nós, pessoas da cidade, fazemos para "ver o verde". A menos que nos conformemos em olhar para o capim, vai ficar cada vez mais difícil!
Mesmo assim, assistimos placidamente a extinção do bioma Mata Atlântica, com toda sua maravilhosa biodiversidade, assim como "naturalizamos" as consequências das mudanças climáticas, as condições mais insalubres de vida nas cidades, ou a destruição da Amazônia. Mesmo que, conscientemente, nos indignemos e nos preocupemos, não conseguimos transformar estes sentimentos em uma ação prática. Alguns, nem tentam.
Durante o FSM, em outro debate realizado em uma tenda montada em frente a um fragmento de mata, um dirigente do PSOL de Pernambuco perguntou - depois de eu ter explicado os efeitos que as mudanças climáticas poderiam provocar no Brasil e a importância de preservar a floresta amazônica - como transformar essa questão em uma campanha de massas, já que era difícil mobilizar as pessoas sobre esses temas.
Confesso que minha primeira vontade foi de associar o desmatamento da Amazônia a um escândalo de corrupção qualquer, para ver se animava o companheiro, mas engoli a "gracinha" e disse:
- É só ter vontade política.
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