“Rosa de Hiroshima” é um poema de Vinicius de Moraes. Faz referência ao lançamento feito pelos Estados Unidos, durante a 2ª Guerra Mundial, de duas bombas nucleares no Japão, em Hiroshima e Nagasaki.
Lembrei dele após o terrível terremoto seguido por tsunami que devastou o Japão em 11 de março, e que teve como decorrência um grande acidente nuclear na usina de Fukushima.
Mesmo que o governo japonês tenha tentado minimizar os efeitos do desastre, ficou claro que este acidente é comparável ao acontecido em Chernobyl, na Ucrânia, em abril de 1986.
Naquela ocasião, o governo soviético também tentou esconder as dimensões do acidente. Centenas de trabalhadores morreram nos dias imediatos a ela, e até hoje milhares de vítimas de câncer ainda são contabilizadas em toda a Europa.
O acidente em Fukushima traz de volta a discussão sobre o uso “pacífico” da energia nuclear. O cientista Sadao Ichikawa afirma que “não existe uso pacífico da energia nuclear, há apenas uso perigoso”.
De fato, desde a mineração do combustível, o urânio, passando pela sua operação, até o armazenamento dos resíduos, todo o ciclo da produção de energia nuclear é carimbado pela palavra “PERIGO”.
A este risco junta-se o fato de que alguns dos resíduos produzidos continuam ativos e perigosos por dezenas de milhares de anos.
Há quem diga que o Japão foi obrigado a usar a energia nuclear, já que não dispõe de alternativas que gerem energia suficiente para sustentar seu modo de vida. Há quem diga também que a energia nuclear é mais limpa, por exemplo, do que a gerada por termelétricas alimentadas por carvão ou óleo.
O mito da energia nuclear “limpa” não se sustenta quando um desastre dessa proporção acontece. Por outro lado, o próprio modelo de desenvolvimento do Japão, baseado no alto consumo de bugigangas eletrônicas, vorazes consumidoras de energia, deve ser também questionado.
A cerca de 150 km do Rio de Janeiro estão instaladas e funcionando duas usinas nucleares em Angra dos Reis. Uma terceira está em processo de construção. Os defensores da energia nuclear argumentam que no Brasil não existem terremotos, nem tsunamis, como se fossem estes os únicos desastres naturais capazes de criar acidentes como o de Fukushima.
Angra é uma área de chuvas fortes e de deslizamentos. As usinas de Angra foram construídas numa restinga chamada de Itaorna, que significa pedra podre em tupi-guarani, idioma dos antigos habitantes da região.
Depois do que aconteceu no Japão, houve uma análise das condições de evacuação da área em torno das usinas, e a principal rota de fuga, a Rio-Santos, frequentemente interditada, se mostrou insuficiente. O treinamento de evacuação alcança um percentual muito pequeno da população, e os mecanismos de alerta são precários.
Existe necessidade para que corramos, aqui no Brasil, este enorme risco? Uma pergunta necessária, já que o governo federal anuncia a construção de mais usinas nucleares.
NÃO! O Brasil tem alternativas suficientes para geração de energia, muito mais limpas e seguras. Somos um país solar, com um regime de ventos que permite pensar em uma auto-suficiência por muito tempo.
A Espanha já gera energia eólica capaz de abastecer seu vizinho, Portugal. A Alemanha, um país muito menos solar do que o Brasil investe muito na energia solar, e hoje já produz mais do que Itaipu.
A energia nuclear foi trazida para o Brasil durante a ditadura militar, quando a sociedade não pode se manifestar. Junto com ela, o delírio da bomba nuclear brasileira. Hoje mesmo, se planeja um estaleiro em Sepetiba, para a construção de submarinos nucleares.
Vivemos um período onde o povo brasileiro pode e deve rediscutir se quer viver em permanente ameaça nuclear, ou se prefere optar por matrizes energéticas mais limpas e seguras. Cabe a todos nós exigir que essa decisão sobre nosso futuro seja feita nós, democraticamente e com todas as informações a nossa disposição.
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