Entrevista concedida à Agência Petroleira de Notícias em 04/02/2009
disponível em http://www.apn.org.br/apn/index.php?option=com_content&task=view&id=897&Itemid=1
Acho que a melhor definição que ouvi sobre o que foi o FSM 2009, partiu de um companheiro que disse: "Apesar de todo o esforço de se tentar institucionalizar o Fórum, ele não foi cooptado. O FSM é incooptável!".
Neste primeiro Fórum realizado após a deflagração da crise global do capitalismo, e também após Nairóbi, onde o Fórum experimentou uma inflexão institucional, existiam muitas dúvidas a respeito do que iria acontecer em Belém, e sobre sua própria continuidade, pelo menos no âmbito da esquerda. Quando chegamos a Belém, rapidamente percebemos uma tentativa de apartar o Fórum da população, em especial a mais pobre.
Isto ficava claro no preço da inscrição, na segurança nos portões, e também numa ridícula Lei Seca que obrigava o fechamento dos bares (somente) dos bairros populares às 22h. É importante dizer que os 2 principais locais usados para as atividades eram separados do bairro mais miserável de Belém - Terra Firme - por um valão de esgoto e uma pista estreita de asfalto. Mas esse 'apartheid" durou apenas até a Marcha de abertura, quando a população de Belém teve a dimensão do que seria o FSM.
Aliás, é cada vez mais complicado falar em um Fórum; em Belém tivemos pelo menos três; o Fórum institucionalizado, dominado pelo PT e o governo Lula; o Fórum "supermercado de idéias", com milhares de atividades de todos os tipos; e o Fórum anticapitalista. Inevitavelmente estes três Fóruns acabaram se cruzando e contaminando positivamente as quase 150 mil pessoas que, de alguma maneira, participaram do Fórum.
Para as esquerdas, o FSM voltou a ser um importante instrumento de sua reorganização na luta anticapitalista. Inúmeras mesas discutiram a crise global, nos seus diversos matizes. Algumas convergências importantes ocorreram, como a reunião dos partidos anticapitalistas, que reuniu representantes de partidos do mundo todo. A palavra de ordem: "Que os ricos paguem a conta" estava estampada nas paredes e faixas, e pôde ser ouvida nos mais diferentes idiomas. Um calendário de lutas global e unificado foi aprovado, assim como foi aprovada uma declaração que responsabiliza o neoliberalismo pela crise, e se coloca contra as demissões e o corte nos salários.
Mas, de fato, a questão ambiental foi a mais importante no FSM, até pelo seu local de realização, na Amazônia. Apesar da tentativa do governo em tentar "esconder" a Amazônia do Fórum, que se mostrou infrutífera, existiu um amplo consenso em torno da importância da Amazônia para o planeta, de que é urgente a sua defesa, e, finalmente, de que essa ação não é somente responsabilidade das populações locais, mas uma tarefa de todo o planeta. Ficou clara a responsabilidade das madeireiras, agronegócio, mineradoras, pecuária e do governo, nos ataques desferidos contra a floresta.
Durante o Fórum aconteceram diversas atividades dos ecossocialistas, sempre com "casa cheia", onde propusemos a bandeira "Desmatamento Zero para a Amazônia Já!". Nestas atividades foi marcante a presença da juventude, interessada em participar da luta ecológica. A Rede Ecossocialista Internacional lançou no Fórum o II Manifesto Ecossocialista, a Carta de Belém. Nele está a condenação do modo de produção capitalista, como responsável pela degradação ambiental, cuja face mais visível são as mudanças climáticas provocadas pelo aumento da concentração dos gases formadores do efeito estufa na atmosfera. Dessa forma, não é surpresa que as respostas capitalistas à crise ambiental venham se mostrando insuficientes.
Este Manifesto conclama a todos e todas que habitam o planeta a rejeitar o processo desastroso do ecocídio capitalista, e a engajarem-se na luta pela construção de uma nova sociedade, com uma economia transformada fundada nos valores não-monetários de justiça social e de equilíbrio ecológico.
Após o FSM, a Rede Ecossocialista Internacional e a Rede Ecossocialista Brasileira realizaram uma reunião para discutir sua organização e seu programa de lutas para o próximo período. Dessa forma, podemos dizer que, se o perigo do do descontrole do clima existe e é cada vez mais real, por outro lado o FSM foi importante para a organização da resistência e do combate aos que destroem a Natureza.
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