Como acabei de postar no Twitter: “se formos esperar pelo bom senso dos deputados, não sobrará nenhuma árvore em pé.” Esse episódio da votação, a toque de caixa, do regime de urgência para a aprovação ou rejeição de modificações no Código Florestal, diz bem como navega esta Nau de Insensatos mais conhecida como Congresso Nacional: ao sabor dos ventos oportunistas!
Antes de mais nada é preciso registrar de que não se trata de uma votação menor, tipo “dia de qualquer coisa”. As modificações aprovadas em relatório do deputado Aldonegócio Rabelo do PCO2doB desfiguram de tal maneira o Código, que permitem a anistia aos já desmatadores e o incentivo aos que ainda não desmataram
Justamente quando continua o impasse em torno da necessidade de reduzir emissões dos gases estufa, com a modificação no Código Florestal avalia-se um potencial de liberação de mais de 7 giga toneladas de carbono, isto é 7 seguido de 9 zeros toneladas.
Além disso, estas modificações precarizam ainda mais as já devastadas matas ciliares, com efeito direto sobre rios e mananciais. É bom lembrar que, nas próximas décadas, haverá uma pressão muito grande sobre o fornecimento de água potável, dada a poluição nos cursos d’água, mais as consequências das mudanças climáticas.
A partir da aprovação do relatório do deputado Aldonegócio, muito elogiado pela senadora Kátia Motoserra de Ouro Abreu, houve um movimento na sociedade de repúdio e denúncia deste relatório, por atender somente aos interesse dos ruralistas. Esta pressão foi decisiva para que, tanto Lula quanto sua sucessora se comprometessem a rediscutir a questão e apresentar outro projeto no ano que vem.
Porém, o que são os interesses nacionais comparados à disputa pela Presidência da Câmara? Ocorre que o líder do PT, Cândido Vaccarezza, inebriado com a possibilidade de sentar na cadeira hoje ocupada pelo Temer genérico, que nada tem a ver com o valoroso Milton Temer, este deputado por São Paulo resolveu deixar a candura de lado e, com toda a ligeirezza, negociou com a bancada ruralista, a bancada do Bingo, a bancada policial (por conta da PEC 300) e a bancada da Lei Khair, a urgência nessas matérias em troca do apoio à sua pretensão de ser o novo Presidente da Câmara, cargo que o colocaria na linha sucessória de Dilma.
Espero que você não tenha se perdido! Resumindo, com esta manobra do deputado Vaccarezza, o brejo se aproximou bastante da vaca! Para completar a encrenca, parte da bancada “ambientalista”, com muitas aspas por favor, estava em Cancún praticando ecoturismo, já que nada de relevante aconteceria (como não aconteceu) lá.
Assim, a votação do regime de urgência para o desmantelamento do Código Florestal ficou acordada para ser apreciada pelos nobres deputad@s esta terça-feira (14). Candidamente, o deputado Vaccarezza garante que o acordo é somente para a votação da urgência, sem que isso signifique que o projeto seja votado ainda neste ano, e que a urgência seja urgente no ano que vem. (!?!)
Às vésperas dos feriados de final de ano, em meio às comemorações e bebemorações, somos obrigados a reunir nossas forças e tentar pressionar novamente para que esse projeto possa ser dicutido com cuidado e democraticamente por toda a sociedade, a partir do ano que vem, sem urgência e manobras ao apagar das luzes.
Corre no Avaaz um abaixo-assinado endereçado aos parlamentares. No Twitter existe uma hashtag #NaoMexamNoCodigoFlorestal que deve ser retuitada, divulgada e apoiada. Mande mensagens divulgando este esforço para suas listas de discussão e amigos. Se conseguirmos um volume de pressão suficiente, conseguiremos barrar mais essa inciativa devastora. Se não, estaremos acumulando forças para uma dura batalha no ano que vem.
Conto com vocês na luta!
por Paulo Piramba