Acho que nós, ecossocialistas, somos uma espécie de Cassandras modernas: somos nós que, atualmente, trazemos as más notícias e, até por causa disso, as pessoas tendem a não acreditar muito no que a gente diz.
Quando o governo Lula introduziu – assim, a seco, sem direito a beijinho e, muito menos, a um jantarzinho antes – as sementes transgênicas no país, fomos nós, juntamente com movimentos sociais, técnicos e pesquisadores de bom senso, que denunciamos o duplo perigo que o Brasil passava a correr deste instante em diante: o alto risco para a nossa segurança alimentar e a perda da nossa soberania alimentar.
Ou seja, passaríamos a consumir alimentos fabricados com substâncias cujos efeitos sobre a saúde são ainda desconhecidos, e que, ainda por cima, são mais resistentes – ao contrário de nós – aos agrotóxicos em que são encharcados. Além disso, ficaríamos todos nós a mercê das transnacionais detentoras das patentes, que poderiam alterar o preço das sementes quando quisessem. Eco-chatos, luditas, foi o mínimo que ouvimos naquele momento.
A notícia abaixo mostra que o dedinho do monstro já está aparecendo. Os produtores que escolheram a soja transgênica da Monsanto começam a perceber, da pior maneira, que a transnacional de santa só tem parte do nome. Bem vindos ao mercado, meus senhores! Acostumem-se a ver o preço dos seus insumos atrelados ao sobe-e-desce do petróleo (mais sobe do que desce), à guerra do Iraque, às constipações intestinais do presidente dos EUA, ou coisa do gênero. E não adianta pedir arrego, anistia da dívida ou se queixar ao Papa, como vocês costumam fazer com estes presidentes- banana que o Brasil costuma ter. No mercado, como vocês sabem, o lema é: "tudo para os peixões e pau nos bagrinhos". E vocês, na cadeia alimentar do mercado, estão abaixo das manjubinhas.
Dá vontade de dizer bem-feito e seguir a vida, se a gente também não fosse se estrepar. Não nos esqueçamos que, nessa mesma cadeia alimentar, somos todos girinos. Está na cara que essa corda vai acabar arrebentando onde e como sempre arrebenta: a população tendo que paga a conta da alta do preço dos alimentos. Pagar cada vez mais caro, por um alimento cada vez mais escasso e não-saudável. Próxima parada: Soylent Green (vejam o filme)
Brasil - 9/9/2008
Enquanto os produtores de sementes convencionais irão trabalhar com aumentos moderados, e em algumas regiões até mesmo queda, no preço dos herbicidas na safra 2008/2009, os produtores de sementes geneticamente modificadas terão um aumento significativo nos custos de produção, puxado pelo incremento nos preços dos defensivos à base de glifosato. Segundo levantamento feito pelo Scot Consultoria, o preço da embalagem de 20 litros do Roundup, marca líder de mercado, aumentou de R$ 249,56 em agosto de 2007 para R$ 348,00 em agosto deste ano.
A última tabela com os custos de produção da safra 2008/2009 divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já mostra os efeitos da alta do produto no bolso do agricultor. Os cinco municípios avaliados pela estatal apresentaram aumento nos gastos com agrotóxicos.
"O preço dos defensivos ficou estável nessa safra, com exceção daqueles à base de glifosato. Como o produtor compra muito esse produto ele acabou puxando para cima o preço dos agrotóxicos como um todo", disse Asdrúbal Jacobina, gerente da gerencia de custo de produção Conab.
O Rio Grande do Sul é o maior estado produtor de soja transgênica. De acordo com a Agroconsult, na Região Sul, a presença de transgênicos foi verificada em 82,1% das amostras de soja. No Brasil, a prevalência de lavouras de soja transgênicas é de 59,1%.
O produtor de transgênicos também arca com um custo maior na aquisição de sementes já que são impedidos de multiplicá-las pela lei de patentes. Para essa safra, a Monsanto já anunciou que aumentará em 17% o royalty da soja transgênica. A cobrança da taxa passará de R$ 0,30 para R$ 0,35 por quilo, já os agricultores que plantarem soja modificada a partir de semente própria deverão repassar 2% do valor de sua colheita para a empresa. Só no Rio Grande do Sul a empresa deve recolher mais de R$ 100 milhões dos agricultores.
Em Cruz Alta (RS), o preço da semente (já com o custo do royalty incluído), subiu de R$ 69,95 para R$ 85,29 por hectare.
Sobre o custo do glifosato, a Monsanto esclarece que dois fatores são importantes na avaliação dos preços atuais dos herbicidas: o incremento do preço do petróleo, que interfere diretamente nas matérias-primas que compõem o produto, além do aumento da demanda global do produto. A empresa informou ainda que está investindo mais US$ 150 milhões na fábrica de Camaçari, na Bahia, unidade que produz a matéria-prima do glifosato, para atender à maior demanda do produto.
De acordo com Gabriel Fernandes, agrônomo da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (ASPTA), o aumento na procura pelo por defensivo à base de glifosato não está ligado ao benefício do produto, mas sim à dependência. "Nos dois, três primeiros anos o uso de herbicida cai, mas depois a semente fica mais resistente e o produtor tem que aumentar volume de aplicação", afirmou.
Para Fernandes, o fato dos produtores de soja não encontrarem na prática os benefícios que as empresas tinham anunciado deve desestimular a expansão do milho transgênico que terá seu primeiro plantio na safra atual.
Acreditando na ampliação do nicho de mercado de sementes convencionais está sendo criada oficialmente hoje a Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados. A entidade reúne empresas como o grupo Maggi, Caramuru Alimentos, Imcopa e Brejeiro.
Fonte: DCI - Diário do Comércio & Indústria
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