Não sei se os 4 leitores desse blog têm as mesmas esquisitices do escriba que vos fala. Provavelmente não. Eles devem ter coisa melhor para fazer, do que acompanhar o triste e cômico horário eleitoral na TV. Se na ditadura militar os candidatos apareciam em fotos 3 X 4, ainda hoje o horário eleitoral é uma foto do Brasil, sem retoques e Photoshop, principalmente na propaganda dos candidatos a vereador. Aqui no Rio, eles costumam começar suas aparições com a frase "você me conhece", deixando o blogueiro aqui com a sensação de que é completamente desenturmado, já que eu não conheço ninguém.
Mas isso é tema para um outro post, em um outro blog. Esse aqui está destinado a comentar a presença (ou a falta dela) do meio ambiente nos programas dos candidatos a prefeito. Mais do que isso, este blog criou especialmente para estas eleições o selo 'Socialismo ou Barbárie' destinado a ajudar os eleitores e eleitoras ecossocialistas a identificar os candidatos e candidatas com preocupações ambientais e sociais legítimas. Para não parecer propaganda eleitoral, vou escolher 3 candidatos de um mesmo partido – o PSOL – que concorrem obviamente em cidades diferentes, já que o partido tem lá suas divisões, mas não chega a tanto.
Escolhi o PSOL porque meu objeto de análise são aqueles e aquelas que mantém um compromisso com a construção do socialismo, e o PSOL é um dos únicos partidos representantes que ainda se assumem como tal. Vou me basear no que tenho visto e lido sobre o programa dos candidatos, porque este blog considera que o programa de governo é o cartão de visitas de um futuro governo, mesmo que essa prática esteja cada vez mais em desuso nestas plagas. Mas também vou levar em conta se as posições que as campanhas vêm tomando se adéquam ao programa escrito. A prática como critério da verdade (sempre quis colocar esta frase em algum texto).
Em Fortaleza, a Frente de Esquerda Socialista (PSOL e PSTU) apresenta Renato Roseno como candidato. No seu site, existe um link para vídeos dos programas de TV. E o conteúdo deles é um colírio para os olhos do blog: áreas verdes, preservação das dunas, aquecimento global, saneamento, lixo, poluição do solo e das praias, ocupação do solo, está tudo lá, de forma didática, ao lado das reivindicações tradicionais dos programas de esquerda, como saúde, transporte, educação. Uma perfeita tradução do que significa ecossocialismo. A Frente de Esquerda Socialista de Fortaleza merece, desta forma, o selo 'Ecossocialismo'.
Por outro lado, geográfica e politicamente falando, temos em Porto Alegre a coligação Sol e Verde (PSOL e PV), cuja candidata a prefeita é a companheira Luciana Genro. O plano de governo pode ser encontrado aqui e é bastante extenso quando fala nas questões ambientais. Porém, aqui as ações valem mais do que as palavras. Quando a maioria da direção do PSOL em Porto Alegre anunciou a coligação com o PV, muitos ecossocialistas – inclusive este blogueiro – apresentamos nossas preocupações. Sem nenhum purismo, nem sectarismo, o PV há muito despiu sua fantasia ambiental, para usar o surrado terninho de partido de aluguel. Não usam mais nem aquele discurso eco-capitalista que tinham seus fundadores (entre eles o Gabeira, daqui do Rio). Alguns gaúchos renitentes bateram no peito e falaram que lá nos Pampas até o PV era diferente e daí, tese que durou pouco tempo, até que se descobriu entre os financiadores do PV estava a Aracruz. Mas agora, durante a campanha descobre-se que a Gerdau, uma siderúrgica que tem causado enormes passivos ambientais, doou 100 mil reais à coligação. Infelizmente, o verde deve ter tapado o sol e, por 100 mil dinheiros, os passivos ambientais viraram passado. Como doação eleitoral é compromisso, para a coligação Sol e Verde, o selo 'Barbárie'.
A terceira e última campanha é a da Frente Rio Socialista (PSOL e PSTU), daqui deste balneário chamado São Sebastião do Rio de Janeiro. Seu programa está disponível sob o nome '50 pontos para um programa de governo'. As questões ambientais estão catalogadas nos pontos 29 a 32. Custa crer que a Cidade Maravilhosa tenha tão poucos problemas ambientais. Tudo bem que o número do partido, 50, cria uma limitação, mas a questão não é a quantidade de pontos programáticos, mas a sua qualidade. Se fosse possível, bastaria usar o CTRL-C e o CTRL-V e colocar estes itens no programa de qualquer outro candidato aqui do Rio, e ninguém perceberia! Nenhuma menção à desordem urbana provocada pelo neoliberalismo; nenhuma disputa contra esse modelo hegemônico de cidade; e nenhuma referência a uma visão radicalmente diferente, uma possibilidade ecossocialista de cidade. Porém, como atenuante, por morar aqui no Rio sei que existem dados, análises, diagnósticos e propostas que foram construídas nesse sentido alternativo. Infelizmente optou-se por uma versão pasteurizada de meio ambiente, talvez para não passar uma visão meio "irresponsável", quando a ousadia e a irresponsabilidade nunca foram tão necessárias. Por isso, o júri resolveu que esta campanha ficou em um meio termo entre o Ecossocialismo e a Barbárie, ganhando dessa forma o selo 'Ou'.
Como estamos em tempos de iteratividade, conclamo meus 4 leitores a deixarem um comentário sobre outras campanhas (de preferência de partidos e frentes de esquerda, porque senão não tem nem graça) e qual o selo confeririam a cada uma delas. Grande abraço. Fui.
2 comentários:
Ao Bloq Ecossocialismo um CHEIRO VERDE para temperarmos a vida sem
Barbárie. Espero ansioso a análise dos programas ecocapitalistas, a exemplo do Gabeira. Quanto aos comentários dos programas do PSOL, realmente precisamos temperá-los.
JADIR BRITO (RIO)
Caro Piramba
Primeiro, permita-me falar de quão contente fico de reencontrá-lo no sáiber-espaço!
Segundo, vim desencavar este tópico para falar do quão vitoriosa foi a campanha do selo "Ecossocialismo"! Mais votos do que reais gastos, demarcação de classe e clara atenção à questão ambiental e, por fim, um Renato cheio de moral e um João Alfredo vereador mais votado!
Quando puder, em 2009, nos faça uma visita aqui perto da linha do equador! Você verá um mandato que recebe a luz do sol "de cheio"...
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